A Importância da Verdade.
1. Certamente a característica da missão de Bento XVI é a verdade.
É-o para tudo, inclusive para o problema da SIDA e dos preservativos, um tema preocupante que – poder-se-ia imaginar facilmente – foi abordado durante a sua viagem à África. No meio das polémicas suscitadas pelas suas palavras, um dos mais prestigiosos jornais europeus, o britânico «Daily Telegraph», teve a coragem de escrever que, sobre o tema dos preservativos, o Papa tem razão. «Certamente a SIDA – lê-se no artigo – apresenta o tema da fragilidade humana e sob este ponto de vista todos devemos interrogar-nos sobre o modo de aliviar os sofrimentos. Mas o Papa é chamado a falar sobre a verdade do homem. É a sua função: ai dele se não o fizesse».
2. O problema da SIDA apresentou-se imediatamente, desde quando a doença se manifestou nos Estados Unidos nos primeiros anos 80, não só sob o ponto de vista médico, mas também cultural: a explosão da epidemia surpreendeu uma sociedade que acreditava ter derrotado todas as doenças infecciosas, e desde o início tocou um âmbito, o das relações sexuais, que há pouco tinha sido «libertado» pela revolução sexual. Com uma doença que punha em discussão o «progresso» alcançado e que se difundia rapidamente graças também à onda de cosmopolitismo que se estava a realizar com os novos e velozes meios de transportes. Ficou imediatamente claro que tal patologia era fruto de uma modernidade avançada e de uma profunda transformação dos costumes, e que talvez a luta para a prevenir tivesse que considerar também estes aspectos. Ao contrário, no mundo ocidental, as campanhas de prevenção foram baseadas exclusivamente no uso dos preservativos, dando por certa a obrigação de não exercer alguma interferência nos comportamentos das pessoas. O «progresso» não deveria ser colocado em discussão; nem na África, onde era evidente – e onde até agora é evidente, se se lerem com honestidade os dados da Organização Mundial de Saúde sobre a difusão da SIDA – que a distribuição de preservativos não é só por si suficiente para erradicar a epidemia.
3. O preservativo não é utilizado em África de um modo ‘perfeito’. – o único que garante 96% de defesa contra a infecção – de um modo ‘típico’, isto é, com a utilização descontinuada e inapropriada, que garante apenas uma defesa de 87%, dando, além disso, uma segurança que pode ser perigosa quando se estabelecem relações com outras pessoas. Como se sabe, a sida não se transmite apenas através da relação sexual, mas também através do sangue. Basta pois uma ferida, um pouco de sangue, para estabelecer a possibilidade de contágio. Torna-se igualmente necessário recordar, como é indicado nas pormenorizadas instruções de uso nas embalagens de preservativos, que estes se podem danificar facilmente com o calor – são feitos de borracha! – e também se foram manipulados por mãos enrugadas, como as de quem faz trabalhos manuais. Mas as indústrias farmacêuticas, tão rigorosas em assinalar estes perigos, são também as mesmas que apoiam o mito de que a difusão dos preservativos pode salvar a população africana da epidemia. Pode por isso compreender-se que todas as propostas de difusão do seu uso seja aceite com satisfação pelas suas empresas comerciais.
4. O único país da África que obteve bons resultados na luta contra a epidemia é o Uganda, através do método ABC, no qual A significa abstinência, B fidelidade (‘be faithful’) e C preservativo (‘condom’), um método, apesar de tudo, não inteiramente de acordo com a proposta da Igreja Católica. Até a revista Science reconheceu em 2004 que a parte mais conseguida do programa foi a mudança de comportamento sexual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido relações sexuais, e o aumento da percentagem dos jovens entre os 15 e os 19 anos que se abstiveram de relações sexuais. De tal modo que a revista escreveu: “Estes dados sugerem que a redução do número de parceiros sexuais e a abstinência entre os jovens não casados, juntamente com o uso do preservativo, constituíram os factores relevantes na redução da incidência do HIV”.
5. Muitos países ocidentais não querem reconhecer a verdade das palavras pronunciadas por Bento XVI seja por razões económicas – os preservativos custam dinheiro, enquanto que a abstinência e a fidelidade são obviamente gratuitas – seja porque receiam que o dar razão à Igreja num aspecto central do comportamento sexual possa significar um passo atrás naquela fruição do sexo puramente hedonista e recreativa que é considerada uma importante conquista do nosso tempo. O preservativo é exaltado para além da sua capacidade efectiva de deter a sida porque permite à modernidade continuar a acreditar em si mesma e nos seus princípios sem nada mudar. É precisamente porque tocam este ponto nevrálgico, esta mentira ideológica, que as palavras do Papa foram tão criticadas. Mas Bento XVI, que já o sabia muito bem, permaneceu fiel à sua missão, a de proclamar a verdade.
Original aqui : http://companhiadosfilosofos.blogspot.com